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5 comportamentos que podem atrapalhar (muito) sua vida amorosa nos apps

Deu Match!?

25/03/2019 04h00

Crédito: Pexels

Sabe a pessoa que só se interessa por matches mas nunca sai com ninguém? Ou aquela que não tem uma foto no app sem filtro? Ou então quem fica extremamente ansioso esperando o crush mandar mensagem e que se decepciona muito quando a resposta não vem? Se você conhece alguém com esse perfil ou se vê encaixado em um deles, saiba que não está só.

A psicóloga Raquel Jandozza acredita que os apps de relacionamento mostram como as pessoas estão com um padrão de autoimagem bastante distorcido, de uma beleza inalcançável. Para ela, isso mexe com a autoestima e cria uma necessidade apelativa de autoafirmação.

A jornalista Thaís Conz teve mais de dois mil matches no Happn. Crédito: arquivo pessoal

Colecionadora de matches

A jornalista Thaís Conz, 30, conta ter instalado aplicativos de relacionamento sem a intenção de sair com ninguém. "Para a minha autoestima era ótimo. Eu ficava à noite olhando aqueles caras gatos, dava match, ficava muito feliz quando era correspondida e ia para o próximo."

Ela afirma ter recebido mais de dois mil matches no Happn, mas que aceitou sair com apenas dois pretendentes. "Sinceramente, eu dava match em homens que achava bonitos, nem lia a descrição. Só percebia que não tinha nada a ver comigo quando puxava assunto ou olhava o perfil com atenção."

No começo de 2019, Thaís resolveu sair desse "mundo virtual de curtidas" que, para ela, ficou vazio. "Admito que os apps melhoraram muito minha autoestima, me ajudando a perceber que sou capaz de sair e ficar com alguém bonito e legal. Cortei o cabelo e amei, o que simboliza que entendi que poderia melhorar a forma como me via de outras maneiras. Comecei a explorar minha autoestima na vida real."

"Tem um perfil interessante que dá o match e some, como se desse uma encaradinha na balada e saísse andando. Antigamente, tinha a paquera, para a  pessoa chegar, trocar uma ideia e levar um 'não'. Hoje, o indivíduo evita esse dissabor: o match é considerado meio caminho andado, um tipo de vitória. O que me preocupa é que isso  mesmo sendo muito pouco  para muita gente é suficiente", analisa Raquel.

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Perfil enganador

Quem usa os aplicativos de relacionamento com frequência certamente já se deparou com perfis de pessoas extremamente bem sucedidas, cultas, viajadas e outros adjetivos mais. É tudo tão perfeito que parece mentira. E, muitas vezes, é, sim! O choque de realidade vem quando o encontro ocorre pessoalmente e, muitas das histórias trocadas entre descrições de app e mensagens privadas, se mostram total ou parcialmente falsas.

Para Raquel, comportamentos como esse demonstram, além de carência,  dificuldade em se aceitar como é. A psicóloga considera alarmante o fato da sociedade viver uma realidade na qual é cada vez mais comum as pessoas marcarem de se encontrar, mas não tirarem os olhos — e também, a atenção — do celular quando estão juntas. É como se as relações cara a cara estivessem perdendo a importância. "A questão é avaliar como as pessoas estão lidando com a tecnologia, com elas mesmas e, consequentemente, com os outros", pontua.

Letícia Fita confessa perder interesse quando nota que crush não fala só com ela no app. Crédito: arquivo pessoal

Ciúme de você!

A especialista na área comercial, Letícia Fita, 27, diz que fica bastante incomodada quando sabe que alguém com quem está conversando nos apps está flertando com outras pessoas também. "Gosto de me sentir única. Penso que se o cara conversa com outras, deve ser porque não tenho importância para ele. Posso estar errada, mas quando esse comportamento é muito perceptível perco o interesse".

O fato de morar em Teresópolis (RJ), nas palavras dela, "cidade pequena na qual todos acabam se esbarrando", contribui para essa sensação de "traição". A jovem revela já ter desmascarado rapazes que descobriu que estavam falando com ela e outra pessoa ao mesmo tempo no app. "Algumas amigas minhas e eu abrimos o aplicativo juntas para ver com quem cada uma de nós está conversando", conta.

Para Raquel, a tecnologia pode facilitar muita coisa, mas não se pode perder de vista que relacionamento demanda trabalho. "Quando o usuário começa a sofrer em vez de se divertir no app é bom parar e pensar a razão pela qual está ali e, quem sabe até, mudar o padrão de uso. Talvez assim ele possa encontrar outras pessoas que também estejam interessadas em algo mais sério."

Será que ele vai responder?

Imagine a seguinte situação: você dá match com um rapaz  incrível, puxa papo e a conversa flui bem. Porém, embora educado, ele começa a responder suas mensagens de maneira mais espaçada, o que te deixa totalmente ansiosa e preocupada com a possibilidade de não agradá-lo. O problema acontece quando essa insegurança acaba atrapalhando a sua rotina e, o que era para ser leve e divertido, se transforma em um fardo pesado.

"A grande questão da ansiedade é que quando tudo ganha urgência, nada fica importante. Se a mensagem demora, a pessoa fica extremamente confusa e vulnerável aos próprios sentimentos. Aí não importa se cinco pessoas conversarem com ela. A expectativa fará com que o único que faltou seja supervalorizado", explica Raquel.

A professora Elaine de Almeida não vê problemas em editar as fotos que usa nos apps. Crédito: arquivo pessoal

Fotos retocadas

A professora Elaine de Almeida, 33, assume tratar todas as imagens que expõe nos aplicativos de relacionamento. "Edito porque acho que saio péssima nas fotos e não me vejo ruim pessoalmente ou no espelho. Para mim, a foto distorce um pouco e acaba destacando pequenos defeitinhos".

"Já aconteceu de falarem que pessoalmente eu sou mais bonita do que na foto. Agradeci e fiquei pensando se realmente preciso fazer tudo isso, mas no fim preferi acreditar que ele disse isso só para me agradar", diz Elaine.

Raquel vê como nocivo encarar o match como se fosse algo determinante para a própria felicidade. Para a psicóloga, seria importante que as pessoas se livrassem do ciclo que as leva a depender cada vez mais dos aplicativos, dos matches e de retocar a própria imagem para se autoafirmar.

"O que tenho visto entre vários pacientes meus é que eles estão migrando, indo ao bar, vendo se algum amigo tem alguém a quem possa apresentá-lo, voltando à moda antiga. Às vezes é necessário sair do modo online e entrar no modo de autoconhecimento, fazer plano de vida, avaliar se todas aquelas pessoas que estão dando match realmente combinam com ela ou não. E se pintar alguém no app e for algo bacana? Vai conhecendo, saia do virtual para o real e venha se divertir aqui fora", finaliza Raquel.

Por Eligia Aquino Cesar, colaboração para a Universa

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