HBO lança documentário sobre as dificuldades e delícias dos apps de pegação
A jornalista Nancy Jo Sales não é estranha ao sucesso. Em 2010, o artigo "The Suspects Wore Louboutins" ("Os Suspeitos Usavam Louboutins", em tradução livre) escrito por ela e publicado na revista Vanity Fair acabou dando origem ao filme "Bling Ring: A Gangue de Hollywood", estrelado pela atriz Emma Watson. Agora, cinco anos após o longa, foi com outro artigo que Nancy deu o pontapé inicial para o documentário "Swiped: Hooking Up in the Digital Age" (Swip é o ato de deslizar a tela, usado nos apps de relacionamento para curtir ou não alguém. O restante do nome seria algo como "ficando com alguém na era digital"), lançado essa semana na plataforma de streaming do canal HBO no mundo todo.
Sales começou a sua pesquisa sobre o mundo dos relacionamento online em 2015, com a matéria que deu origem a todo o projeto. Intitulado "Tinder e o início do apocalipse dos romances", o artigo tentou explicar o porquê de tantos jovens odiarem apps de relacionamento, mas não serem capazes de parar de usá-los. Foi com esse estranho paradigma que a jornalista percebeu que os relacionamentos amorosos estavam se transformando de maneira inédita graças a tecnologia, e que ali existiam muitos pontos a serem investigados.
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"Há muitas coisas que não estão sendo reconhecidas como problemas e que as pessoas não dão atenção sobre os serviços de relacionamento. Existe muita violência sexual relacionada aos aplicativos, e isso é algo que ouvi diversas vezes das mulheres que entrevistei. Há uma jovem, Nicole, que está em nosso documentário, que foi vítima de assédio sexual por um cara em um app e ele acabou criando um site sobre ela, dizendo que ela era viciada em drogas e outras coisas horríveis", contou Sales, em entrevista ao The Washington Post.
Ao longo dos 87 minutos do filme, a jornalista entrevista Jonathan Badeen, co-fundador e CSO do Tinder, Whitney Wolfe, fundadora e CEO do app Bumble, Mandy Ginsberg, CEO do Match Group (dona do Tinder, OkCupid e outros sites de relacionamento) e diversos especialistas em comportamento e pesquisadores para entender as maneiras que o Tinder e outros aplicativos estão alterando o jeito que as pessoas flertam dentro e fora das telas de celular. Para ilustrar essa nova realidade estão no centro do documentário seis jovens adultos, de 18 a 29 anos, com perfis diferentes mas o mesmo objetivo de movimentar a vida amorosa e sexual com a ajuda, e as barreiras, dos apps.
"Comecei a receber e-mails de pessoas do mundo inteiro dizendo 'coisas assim acontecem aqui também', e não apenas nos apps de relacionamento, mas também nas redes sociais, e falando de como tudo isso está afetando as garotas em geral, especialmente em questões relacionadas a machismo, assédio sexual e misoginia online. Eu continuei a escutar as pessoas falarem de aplicativos de relacionamento e sobre a maneira que elas estão utilizando os apps, então comecei a levar meu cameraman para filmar as entrevistas", explica ela.
Romance online sem final feliz
Uma das decisões tomadas por Sales ao decidir o foco do documentário foi de não incluir nenhuma história "com final feliz" na produção. Ela afirma que a decisão é pela falta de dados precisos em relação ao número de relações bem-sucedidas provenientes dos aplicativos. Sales pontua que, estatisticamente, o "felizes para sempre" não é a regra, mas a exceção dos ambientes online.
Entre a publicação do artigo original, em 2015, e o lançamento do documentário, nesta semana, muita coisa mudou na indústria de relacionamentos online e isso refletiu na abordagem da obra. "Houve uma explosão. Agora, aplicativos online são um fenômeno global, e por isso o processo de conhecer alguém online já está bem normalizado. Com o tempo, ganhamos coisas como conveniência, funcionalidade e utilidade, que é o que a indústria tecnológica tenta sempre fornecer, mas o que o filme realmente pergunta é 'o que foi que perdemos em meio a tudo isso?"', questiona.
Em pesquisa divulgada pelo Tinder, 80% dos usuários do aplicativo utilizam o serviço em busca de um relacionamento sério, mas quase a mesma porcentagem nunca encontrou nenhum relacionamento de longo prazo em aplicativos do gênero. "Não há nada de errado em usar o Tinder só para ficar, mas porquê esses aplicativos vendem tanto a imagem de que eles podem te ajudar a conseguir conexões duradouras? Eles sabem o que as pessoas querem, elas querem amor, uma conexão real com alguém, mas não há nenhum dado que mostre como esses apps ajudarão o usuário a conseguir isso", finaliza ela.
Ficou curioso em adentrar mais a fundo na psicologia do mundo do romance virtual? O documentário "Swiped: Hooking Up in the Digital Age" estreia em 12 de novembro às 22h no canal HBO, quando também chega ao serviço de streaming HBO GO. Veja o trailer abaixo (em inglês):
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