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Mães solo relatam ter sofrido discriminação em apps de relacionamento

Deu Match!?

04/05/2019 04h00

Crédito: Pexels

Não há dúvida que os aplicativos de relacionamento sejam ótimas ferramentas para conhecer alguém. O problema ocorre quando após o match, o esperado final feliz, dá lugar à desilusão e à tristeza. Um exemplo disso é o que acontece com algumas mães solo. Muitas delas ao buscarem alguém para namorar, se divertir, transar ou só beijar na boca se deparam com abordagens insensíveis, inconvenientes e, até mesmo, desrespeitosas pelo simples fato de terem filhos.

"O que influencia em meu caráter o fato de eu ser mãe?", questiona a bordadeira Anielle Silva.

"O que há de errado em ser mãe?"

Há cerca de cinco anos, a bordadeira Anielle Cristina Silva, 31, conheceu um rapaz em um app de relacionamento por quem sentiu uma forte conexão. "Ele tinha minha idade, era tudo muito intenso e eu estava sendo correspondida. Conversamos muito por uma ou duas semanas e estava seguindo de maneira tão perfeita que combinamos de eu ir de Ibaiti a Londrina [ambas cidades do Paraná] para conhecê-lo", relembra. 

Um dia antes da viagem, Anielle contou ao rapaz que tinha uma filha. Anielle relata que não havia dito nada, até então, por não ter sentido necessidade de falar sobre a parte mais importante da vida dela para um rapaz que nem sabia se iria conhecer pessoalmente algum dia. "Ele perguntou se era realmente verdade e quando confirmei que era mãe, falou que a família dele não aceitaria isso, desculpou-se e disse que não poderia continuar. Apesar de tudo que estava acontecendo, parou de falar comigo, sem que eu nem pudesse argumentar".

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"A maioria dos homens que conheci se comportam como se você estivesse procurando um pai para seu filho, um substituto. Não é isso que eu quero, minha relação com ela já está consolidada. Procuro alguém que venha acrescentar e que, evidentemente, esteja interessado no bem-estar da minha filha. Se ficar comigo tem que ser porque gosta dela também", diz ela.

Anielle afirma que episódios como esse ainda têm impacto negativo na vida amorosa dela até os dias de hoje. "É difícil encontrar alguém, é como se eu não fosse uma pessoa para algo sério. O que tem de errado em ser mãe? Acaba ficando um sentimento de culpa que, na verdade, não deveria existir. Atualmente, quando vejo um cara e o acho atraente penso nessas situações e me desanima, perco o interesse. Acho que tudo o que passei me fez mal e ainda faz de alguma maneira", avalia ela.

Valéria Alencar diz não ver razão para esconder que é mãe. Crédito: Arquivo pessoal

"Fui xingada quando ele soube que eu tinha um filho"

Algo parecido aconteceu com Valeria Kirley Dias Alencar, 21. "Conheci um cara no app com quem conversei um tempão, que parecia gente boa. Após vários elogios, pediu uma rede social e eu passei. Quando ele viu uma foto minha com meu filho, imediatamente mandou uma mensagem me chamando de vagabunda, revoltado porque eu não tinha dito para ele que era mãe. Nem deu tempo de me defender, porque em seguida ele desfez o match e parou de me seguir nas redes sociais".

Valeria, que é analista de cobrança, conta que desinstalou o aplicativo. "Fiquei achando que não tinha exceção naquilo. Para mim, todos partilhavam do mesmo pensamento, até porque grande parte dos outros com quem conversei não foram tão agressivos mas deram a entender que o fato de eu ter um filho impactava muito em ter uma conversa ou futuramente um relacionamento. Eu via que eles se incomodavam por essa situação, até mesmo por eu ser uma mãe muito jovem", afirma Valeria.

"Normalmente quando digo que tenho filho, informação que nunca escondo, eles param de falar sobre qualquer outro assunto e passam a perguntar se o pai dele é presente ou quem ficaria com o menino para eu sair, por exemplo. Esse tipo de coisa que, a meu ver, é bem desnecessária", conta.

Ao contrário do que aconteceu com Anielle, Valeria diz nunca ter se sentido culpada por esses acontecimentos desagradáveis. "Já fiquei muito mal em saber que alguém que tem mãe, que é um homem que, obviamente, nasceu de uma mulher, tem um pensamento tão inútil a ponto de achar que a mulher só por ter um filho não pode ter vida. Sinto mais revolta do que opressão".

Após diversas tentativas frustradas, Gabriela Feitosa desistiu dos apps de relacionamento. Crédito: arquivo pessoal

"Muitos não entendem que o filho é minha responsabilidade e não do outro"

Gabriela Feitosa, 28, usou apps de relacionamento por cerca de um ano. A estudante de Administração e assistente de atendimento em tecnologia conta ter feito um teste para ter certeza que a rejeição que mães solo sofrem nos aplicativos não era coisa da cabeça dela. "Primeiro, deixei no meu perfil 'tenho uma filha' e recebi poucos matches. Ao remover essa informação, obtive diversas combinações, mas muitas delas eram desfeitas ou a conversa morria sempre que eu dizia que sou mãe".

Ela diz que foi questionada a respeito do pai da criança ou a razão pela qual foi mãe tão cedo. "Um cara me perguntou se eu toparia sair sem compromisso 'já que eu tinha uma filha', deixando claro que ele não estava afim desse tipo de responsabilidade. Disse, ainda, que eu não precisava ter vergonha do meu corpo, das marcas da gestação, porque ele não tinha problema com isso. Nesse caso, fui eu que desfiz o match".

Gabriela diz que, por algum tempo, acreditou que uma mudança na aparência mudaria as coisas. "Emagreci 20 kg, fiquei uma garota fitness e, ainda assim, tudo acontecia da mesma forma: sempre que falava da minha filha, o papo morria. Hoje, quando saio com alguém, geralmente é uma pessoa mais velha do que eu ou que já tem filhos".

A estudante conta que muitas pessoas do seu círculo de relações têm dificuldade em acreditar que esse tipo de problema aconteça realmente. "Às vezes, penso que, mesmo as pessoas próximas, talvez tivessem a mesma reação que esses caras no app de relacionamento. Parece que somos alienígenas quando falamos de filhos. Não há motivo para esconder a parte mais importante e interessante da minha vida. No momento estou sem utilizar apps de relacionamento e não tenho interesse em voltar. A melhor coisa é não me estressar e tentar procurar outros meios para encontrar alguém bacana", conclui a jovem mãe.

Por Eligia Aquino Cesar, colaboração para a Universa

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