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Eleitores de Haddad e Bolsonaro se estranham até nos apps de pegação

Deu Match!?

25/10/2018 04h00

Foto: Getty Images

Tal como o amor proibido entre Romeu e Julieta, há casos em que duas pessoas de grupos opostos se apaixonam e deixam as diferenças de lado para seguir com o romance. Mas também tem gente que não consegue levar adiante um flerte com uma pessoa que tem uma posicionamento contrário, ainda mais se ele for político. E, em ano de eleição, isso fica mais evidente do que nunca.

É o caso de Vitória Santos. A publicitária de 26 anos usa o Tinder há mais de seis anos e é eleitora de Fernando Haddad, do PT. Quando ela vê um alguém no app que vota no candidato de direita, Jair Bolsonaro (PSL), ela já pula o perfil sem pensar duas vezes. Para a jovem, alguns aspectos do contato com um bolsonarista fazem com que o flerte seja impossível de se concretizar.

"Na maioria das vezes, leva um certo tempo até descobrir o posicionamento político do outro. Quando chegamos nesse assunto e descobrimos que a pessoa se identifica com a oposição, na maioria das vezes, cria um certo bloqueio, porque as ideias do outro vão contra tudo aquilo que você acredita", explica Vitória.

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Já o designer Renan Ramalho, de 22 anos, pensa de maneira oposta. Para ele, o voto não tem nada a ver com a índole da pessoa e por isso não faz sentido levar esta questão em consideração na hora do flerte. "Parece que opinião política e signo viraram pretexto para definir a personalidade da pessoa. Só porque você vota em tal candidato as pessoas começam a te julgar com base nisso", diz ele.

Vitória afirma que tenta entender o outro lado, mas que muitas vezes o diálogo é inviável (Foto: Arquivo Pessoal)

Eleitor de Bolsonaro, o designer usa o Tinder há pouco mais de 10 meses,  mas anda desanimado com o app. "Eu estou parando de usar o Tinder porque tudo o que você fala as pessoas já relacionam com o candidato. Muitas garotas de esquerda acham que por eu votar no Bolsonaro eu seria um machista, dentre outros adjetivos que relacionam a ele", explica Renan.

O jovem acredita ser possível deixar de lado a preferência política em prol do relacionamento. Para ele, é preciso ir além das questões políticas. "Eu não deixo que isso atrapalhe um flerte meu. Se eu gostei da pessoa, não foi por causa da preferência partidária ou política dela, e eu não vou deixar que isso atrapalhe o relacionamento", diz.

A economista Ana Clara Azevedo, de 27 anos, é eleitora de Haddad acredita ser impossível separar a preferência política da essência da pessoa, e por isso não dá match em quem vota no Bolsonaro. "Nosso voto expressa nossos valores fundamentais e no que acreditamos. Um cara que vota no Bolsonaro só confirma pra mim que ele está alinhado com toda a estupidez machista e homofóbica que sai da boca do candidato dele, que é exatamente o tipo de coisa do qual eu fujo quando estou buscando alguém pra sair e curtir", afirma ela.

Opostos que não se atraem

Vitória já teve um relacionamento com uma pessoa com ideias políticas opostas às suas, mas não deu muito certo. "No início, era lindo! Mas, com o tempo, começaram a surgir as discussões. Ele transmitia o mesmo discurso machista do candidato dele. E eu, que sempre fui bem independente, às vezes era questionada, julgada. Algumas vezes havia tentativas de me silenciar com relação às coisas que eu acredito" recorda.

O eletricista Júlio Leme, de 29 anos e eleitor de Bolsonaro, também evita sair com garotas de esquerda. Na opinião dele, um relacionamento com alguém do espectro político oposto não tem como dar certo. "Se nos aplicativos eu começo a conversar com alguém que vota no Haddad sei que em algum ponto o ponto de vista não vai bater, porque ela não acredita nas mesmas coisas que eu", conta ele.

Ele diz que já tentou sair com garotas que votam em candidatos de esquerda, mas que hoje em dia ele mesmo não sente vontade em prolongar a conversa nestes casos. "Já desanimei durante uma conversa depois que descobri que a menina votava no Haddad. Depois disso, tem meio que uma falta de assunto e a conversa morre", diz.

Renan afirma que várias vezes já ficou no vácuo por conta de seu voto no candidato de direita. "O meu voto não determina o meu caráter, e votar no Bolsonaro não me torna um extremista. Ainda assim, as meninas simplesmente param de falar comigo, e é por isso que até deixei um pouco de lado o app", conta.

Omitir o ponto de vista político também é um problema para Vitória. "Sempre tem aquele que diz que não quer falar sobre, não quer entrar no assunto e fala que tanto faz. Eu acredito que não se posicionar, também é escolher um lado. A indecisão quanto a isso também gera um bloqueio", diz ela.

Ainda assim, a eleitora de Haddad diz não ser radical. Se o match é com um eleitor do Bolsonaro, ela tenta entender o outro lado e ver se vale a pena manter o contato. "Já houve o caso de estar numa conversa legal e descobrir só depois que o cara vota no Bolsonaro. Aí, surge a análise do porquê a pessoa votar nele, se é por insatisfação com a situação política, sentimento anti-PT, ou se é porque a pessoa concorda e acredita no discurso pregado pelo candidato. Depois de uma longa conversa, a gente vai descobrindo os pontos e analisando se vale a pena continuar a conversa ou sair pra comprar um café e nunca mais voltar", explica.

O único conselho que Renan dá para quem se vê na mesma situação que ele é simplesmente não falar de política e evitar brigas. Vitória concorda. "Não vale a pena discutir. Se a pessoa não está disposta a te ouvir, ela não vai ouvir. E se esse for o caso, isso já prova mais uma vez que ela não é a pessoa certa pra se estar", diz ela.

Ana Clara complementa. "Para mim, uma relação amorosa saudável tem como pilar fundamental que as pessoa envolvidas compartilhem dos mesmos valores. Então, por mais que você queira, é necessário que o crush valorize as mesmas coisas que você", finaliza.

E você? Já deixou de dar um match com aquele crush por ele votar no Haddad ou no Bolsonaro?

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